sábado, 26 de abril de 2014

Pra que serve um facebook?

Por diversas vezes pensei em excluir minha página do facebook. Por diversas vezes me arrependi de ter escrito algo que não devia e até discuti questões inúteis com gente que acabou me odiando “ad eternum”, mesmo sabendo que isso repercute significativamente nas rodinhas de conversa por aí. Conquistei a antipatia de alguns e até mesmo a simpatia de quem não fazia ideia de como eu era de verdade, fora do estereótipo que se vê caminhando pela rua. Pois uma coisa é o que se pensa só de ver de longe, outra coisa é conhecer de fato a pessoa através dos diálogos, dos amigos e das preferências. Aliás, através dele  podemos descobrir até mesmo o nível intelectual pela quantidade de erros de português que a pessoa apresenta.

Não importa, facebook é o registro do cotidiano de cada um de nós. E isso é extremamente interessante. Se eu morrer amanhã, por exemplo, meu filho terá ideia de como era a mãe dele no dia-a-dia e como se comportava (ou não) com as pessoas. As mancadas, as fotos de momentos especiais, as indignações de algo que não saiu como o esperado, enfim... Tudo fica registrado nessa ferramenta fantástica do mundo moderno.

Serve também para chatear, quando nossa solicitação de amizade é negada e surpreender quando se aceita alguém que sempre te olhou meio “torto” na rua e no fim demonstra ser teu fã.  Dependendo da lua, aceitamos estranhos que viram amigos ou negamos o convite daquela pessoa que se conhece, mas que não se tem nenhuma amizade. Depois bate certo arrependimento, afinal, qual o problema dela ser mais uma amiga na lista? Lua! Não tem outra explicação.

Então você percebe que um grande percentual nunca entra em contato com você, só está ali para ficar de “butuca” ligada no que você está postando sem se manifestar. Ou não, pois ao mesmo tempo você se dá conta que também não entra na página de ninguém, nem quando estão de aniversário, porque fica só focada na sua. Então tudo bem vai, deixa o pessoal olhar!

Mas nem tudo dá para compartilhar. Há uma lista de amigos e conhecidos e há também os que não têm acesso algum a nossa vida fora da internet. Isso é importante. Quem não é meu amigo, não tem que saber de nada do que eu ando fazendo na vida. Há quem deixe sua página aberta ao público, mas eu acho desnecessário, além de perigoso.  Um prato cheio para quem te quer mal. Acho muito mais interessante deixar as criaturas loucas para saber o que se passa através daquela página vazia só com o meu nome e não ter como acessar. Os meus favoritos são os bloqueados que não devem entender nada quando meus amigos falam comigo e meu diálogo não aparece para eles em lugar algum.  Devem achar que estão loucos.  Tem aqueles que a gente deixa em “Stand By” e fica só cuidando decidindo se vai deletar ou não e um belo dia acorda e pronto! Apaga a criatura da vida para todo o sempre, até que a “saia justa” os coloque frente a frente novamente e te deixe com cara de “tacho”.  

Passei a ver minha página com outros olhos. Não me importo com a quantidade de arrependimentos e questões que se pudesse daria um “ctrl z” para desfazer o erro, isso faz parte. Afinal a vida não vem com manual de instruções. Nós mudamos de opinião constantemente na medida em que as informações vão surgindo em nossas vidas. Tudo é aprendizado. Inclusive olhando os erros dos outros e não só os nossos, aliás, dificilmente conseguimos perceber os nossos.

Não importa se você passou do ponto. Não importa se em algum dia foi a “bola da vez” nas rodinhas de conversa te chamando de chata pelo excesso de postagens do mesmo assunto. Não importa se trocou o status de relacionamento um bilhão de vezes e se esqueceu de apagar as fotos do passado confundindo todo mundo. O que importa é que o registro da sua vida, caso você morra e não possa mais apagar, seja de momentos felizes e plenos, com muito mais alegrias do que tristezas e que deixe muitas saudades a cada vez que alguém for lembrar de você.  Ainda dá tempo, você pode voltar, olhar para trás e decidir se o seu  álbum  e o registro dos seus atos está tornando sua vida algo que realmente vale a pena de ser vivido.  Tudo pode ser consertado. A vida pode e deve ser sempre bem colorida, divertida e feliz.  Sim, descobri que facebook serve pra isso.  Rever a vida, registrar momentos, dar boas risadas e deixar saudades.  

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Fanatismo

Todo fanatismo é burro. Uma ideia baseada em rejeição de qualquer outra ideia que não a da interpretação particular de quem o possui. E o mais estranho é que muitas vezes alguém considerado inteligente pode ficar sem raciocínio lógico algum quando resolve ser fanático. Prova disso é a reação de algumas pessoas diante da política, do futebol e da religião.

É um fervor excessivo, irracional e persistente. Para algumas pessoas, beira o delírio. Uma agressividade exagerada, totalmente desnecessária, um intenso individualismo onde a sua opinião está acima de qualquer coisa e suas ideias são carregadas de preconceitos. Um estreitamento mental impressionante que só demonstra o quanto um fanático pode ser fraco e dependente das suas crenças.

Ser apaixonado por uma ideologia, um time de futebol ou uma religião não significa aceitar o fanatismo. É preciso um equilíbrio de emoções e atitudes. Não podemos sair por aí agredindo as pessoas só porque elas pensam diferente de nós, embora podemos e devemos comemorar e extravasar na alegria quando algo que admiramos obtém um excelente resultado. Infelizmente não é o que se percebe nas redes sociais num final de campeonato por exemplo. As pessoas perdem a linha. São extremamente desagradáveis e infantis. Promovem comentários toscos sem estruturação do pensamento e sem uma conclusão coerente. Ofendem grandes amigos com comparações grosseiras que nada condizem com a realidade. E eu pergunto: Pra quê? De que adianta isso tudo? O que se consegue de positivo com isso?

Nos Estados Unidos, uma seita suicida simplesmente acreditou num maluco com um conceito de um avanço evolucionário e viagens para outros mundos e dimensões e pronto! Foi-se embora o raciocínio pela própria cabeça. Aliás, foi-se embora a cabeça. O treinamento de um terrorista, sobretudo dos homens-bomba é criteriosamente estruturado. A fé é a única convicção de todos eles. Não se trata de luta por território, por liberdade ou dignidade, trata-se apenas de obediência ao líder supremo: Alá. São como ovelhas, aonde um pastor vai gritando na frente e elas de cabeça baixa seguem em direção à mangueira sem sair do trilho das demais.  

É uma adoração cega por algo que acredita ser a tábua de salvação. Um pai que entrega o corpo do filho recém-nascido para uma seita, por acreditar na ideia de algum doente mental com excelente oratória, que o convenceu que assim ele conseguiria ser bem sucedido na vida. No fanatismo, até mesmo alguns ateus conseguem ser fanáticos. Querem combater qualquer ideia associada a uma crença em algo superior que possa transmitir paz a alguma pessoa na face da Terra. Ora, que diferença faz se uns acreditam em Buda, outros em Allan Kardec e outros em Jesus Cristo? Para eles tudo isso é ridículo e deve ser contestado em todas as oportunidades possíveis.

Fanático é chato. Desagradável. Geralmente está cercado por outros chatos fanáticos como ele.  Gente que segue o impulso de uma paixão sem ser coerente, ou seja, fazer o bem sem olhar a quem, desde que pense como eu dentro da minha crença religiosa. Ser educado e manter minha postura profissional, desde que seja do meu time ou do meu partido político.

Aliás, na política a situação é ainda pior, pois por uma sigla, fanáticos defendem uma corja de corruptos como se fossem seus próprios pais, brigam com amigos que questionam o comportamento de um bando de falcatruas e no final das contas o político pelo qual se brigou tanto está apertando a mão do adversário combinando um acerto posterior nojento de benefícios mútuos.

Afinal, o fanatismo serve pra quê? Algo que cega, que perde a linha, que promove discórdias e antipatias. Que não gera uma discussão lógica e coerente de pontos de vista distintos. Que não traz benefício algum.   Demonstrar sua paixão através de ofensas com alguém que pensa diferente é algo totalmente desnecessário e burro.

Profissionais, que deveriam ter certa postura, perdem completamente a linha por serem fanáticos. Amigos acabam discutindo e ofendendo-se gratuitamente sem a menor necessidade. Namoros são impedidos pela diferença de cultos. Fanatismo é nojento. É algo que só demonstra o quanto a pessoa é fraca e pequena pra quem olha de fora. O quanto o ser humano está longe da evolução e prefere viver dentro de um pequeno círculo de opinião para não precisar gastar energia com raciocínio. Digno de pena. 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Bonitinho, mas ordinário


Este doce faz parte da minha infância. Chama-se Gelatina Rei Alberto. Um doce que homenageia o Rei da Bélgica, imitando as cores da bandeira de seu país quando o mesmo veio visitar o Brasil em 1920. Minha bisavó Maurília Miranda sempre nos presenteava com algumas taças quando fazia. Era uma de suas especialidades, além do seu delicioso bolinho de batata. 


Sempre lembro dela com carinho quando falam nesta sobremesa. Hoje descobri porque ela é tão especial para o meu pai. Porque é algo raro de ser feito. Requer paciência e dedicação. Você começa a fazer num dia e tem que terminar no outro, ou seja, começa a fazer quando está com vontade de cozinhar e termina podre de nojo de ter inventado tanta baderna na cozinha. 

Não sei se foi o azar de ter a infeliz ideia de fazer isso quando a pessoa que trabalha comigo pediu folga ou se o doce é chato de fazer mesmo. Após 30 anos resolvi experimentar a receita da bisa que estava anotada com a marcação de um coraçãozinho no meu livro de receitas da família. Ju-ro para vocês que talvez repita tal façanha com esse mesmo intervalo de tempo. 

Tudo começa com você animada na cozinha com todos os ingredientes disponíveis preparando a gelatina e cortando os pedacinhos de abacaxi. Coloca em taças de martini numa tentativa nostálgica de imitar sua bisavó. Então você se dá conta que essa primeira etapa terá que esperar a gelatina ficar pronta para receber as demais camadas, desanima e guarda os ingredientes para o outro dia. 

Só que no outro dia você está em outra “vibe” e não está mais com vontade de cozinhar. Mas o seu doce está incompleto e você lembra que seu filho deve provar a receita da tataravó para pelo menos saber que gosto teve a sua infância. Vira um motivo totalmente emocional, uma questão de valor familiar, algo totalmente pessoal.

Você sai do seu quarto que está extremamente agradável com o ar condicionado ligado e encara a cozinha num calorão desgraçado. Lá pelas tantas você começa a sentir uma pequena irritação com o suor que insiste em escorrer bem no meio das suas costas. Mas segue firme e forte. Precisa concluir o que começou. Então deve fazer uma calda maldita que leva quase meia hora para ficar no ponto do maldito fio para só então colocar as 10 gemas coadas que depois de pronto você se pergunta como foi que aquilo tudo ficou em tão pouca quantidade. Pra completar, por questão de segundos o que era para ser ovos moles acaba virando fios de ovos e você ali sem saber o que fazer para controlar aquela situação. E o fogão? O que é aquilo? Fica com calda pra tudo que é lado que começa a saltitar lá pelas tantas. Uma trabalheira dos infernos mexendo aquilo tudo para no final não render quase nada. 

Tudo bem, você precisa fazer o merengue e isso é barbadinha. A gente faz uma sujeira enorme com meia dúzia de coisinhas e tá tudo certo. Mesmo odiando ameixa, você precisa seguir a receita para lembrar com fidelidade do sabor da infância, senão não fica genuíno. Você “recozinha” aquela ameixa nojenta depois de espremê-la bem e fazer mais uma anarquia básica na sua pia. 

Então, hora de montar as taças. Você retira tudo da geladeira e começa a montar as camadas delicadamente como se fosse uma preciosa obra de arte. O momento é tão especial que é necessário registrar numa fotografia, pois talvez você nunca mais repita tal façanha. Pega o telefone e liga para o seu pai visitá-la para ter a surpresa de comer o tão adorado doce da “Vó Maurília” mais uma vez . Algo raro, que talvez nunca mais aconteça. Ao olhar para a cozinha, percebe que um furacão passou por ali, o doce aparentemente não tem nada demais e o gosto nem é tão bom assim como era o da sua bisavó. 


Me senti tosando um porco. Muita gritaria para pouca lã. Olhando para ele é tão bonito né? Parece tão simples. Mas sinceramente, eu trocaria o nome desse doce maldito de “Gelatina Rei Alberto” para “Bonitinho, mas ordinário”. Só de raiva vou comer tudo agora e acabar com esse maldito de uma vez.
 — se sentindo incomodada.