No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Entrou sem convite, de penetra... Simplesmente, arrebentou minha uretra...
Quase três da manhã e não consigo dormir de jeito nenhum devido
aos efeitos da dolantina e morfina que injetaram em minha veia por cinco dias
consecutivos de 4 em 4 horas. Na verdade, só tenho a agradecer por essas drogas
que me impediram de cantar o Hino Nacional de trás pra frente de tanta dor. Cada
vez que me fincavam uma agulha com uma seringa do tamanho do meu secador de
cabelo, sentia um alívio inexplicável... Mas isso foi lá, aquele dia... Agora
chega! Não aguento mais não ter controle da situação.
Imaginem o sofrimento de não poder fechar os olhos ou apagar a
luz que já começa uma espécie de start de imagens psicodélicas sem fim, te
fazendo sentir que está realmente dentro daquela imagem. Eu defino o canal que quero assistir entendeu? Quero fechar
os olhos e simplesmente dormir em paz no “escurinho do cinema”. Cansei de ficar
olhando a bolinha que engoliu a outra bolinha que por uma fagocitose
multicolorida em neon resolveu vomitar um trilhão de bolinhas de luz formando
uma onda gigante de flores roxas com cordões rosa pink que não param de piscar
pra mim.
Preciso dormir! E preciso fazer isso no escuro... No silêncio
do meu quarto sem interrupções. Preciso da escuridão total para dormir. Só que quando
fecho os olhos, meu travesseiro vira um algodão doce que não mela e me faz voar
numa imagem mega ultra power colorida onde lá pelas tantas aparece o Darth Vader
abrindo a boca que sai outro Darth Vader de dentro e depois outro e depois
outro. Pra piorar ele está dançando eu quero tchu eu quero tchaaa achando mega
engraçado quando aponta pra mim como se dissesse: “eu quero tuuuu”.
Sim, o Darth Vader me quer... E tá insistindo. Eu abro os olhos e penso mas
esse cara tá “pedindo uma garoa com vento na cara”...
Tô entrando em
pânico! Acendo o abajur, olho para o quarto... Tudo normal, meu quarto é todo
branco, então olho para os lados e penso: Sim, tá tudo bem Renata Miranda volte
a dormir.
Esquece o Darth Vader, essa hora ele encontrou o ET da visão
anterior e foram passear na nave aquela que se abria em camadas e pingava
sorvete nas estrelinhas que explodiam em luzes de neon naquele universo com um
jogo de degradê que eu ju-ro, que adoraria saber reproduzir num quadro de tão
lindo que achei.
Sabe, eu confesso, no início eu achei super divertido e
legal. Tinha horas que eu ficava rindo e pulando bolhas de sabão e a porta do
meu quarto começou a enraizar na parede e foi tomando conta do quarto todo. Todo
trabalhado no marrom com dourado, aquilo tava um show! Como eu gostaria de
conseguir reproduzir aquele desenho com minhas próprias mãos. Queria poder
dividir com o mundo o que estava na minha cabeça. O “lance” é lindo demais para
guardar só pra mim. Queria uma análise crítica da minha mãe que adora pintar
quadros naquela cena. Uau! Minha mãe ia pirar com esse! Caraca! Olha isso! Aquele
hibisco gigante acabou de explodir e eu não consigo mais parar de pensar no
quanto isso foi lindo de morrer e eu aqui sem poder mostrar, presa dentro de
mim mesma. Socorro! Alguém me ajude! Estou
presa num lugar muito agoniante e ao mesmo tempo tão lindo que se não fosse tão
chato e demorado para passar e eu tivesse o controle de fazer parar eu juro que
até ia dar uma “negociadinha” com alguma enfermeira para conseguir mais.
Mas como eu ia dizendo... Hã? Que foi? Ai, a plaquinha que
trouxe do Chile todo trabalhado no cobre que tenho no corredor acaba de
balançar a cabeça pra mim. Até me
assustei! Achei que ele fosse me arremessar a lança que tem na mão com aquele
braço gorducho todo trabalhado nas 787 pulseiras verdes que de vez em quando
ficam piscando num movimento de vai e vem. Coisa chata! Vou ter que fechar a
porta perai...
Mas gente... “PURAMOR”... É muito ruim não conseguir parar
uma viagem psicodélica e voltar para a realidade de simplesmente fechar teu olho
e dormir, afinal, se quiser ver uma
imagem bacana daquelas simplesmente podemos entrar no google e digitar imagens
psicodélicas e pronto. Você define a hora que isso vai acontecer, você escolhe
a hora de parar, você está no comando da situação.
Cansei de assistir a mesma história com personagens
diferentes só porque fechei o meu olho. Onde desliga isso? Quando é dia eu
quero dormir, quando chega a noite ou eu enxergo tudo se movimentando e virando
imagens que mudam de forma ou eu fico como um quati assustado olhando para o
teto escuro e brincando com o meus móveis que de vez em quando começam a perder
a forma e formar ondinhas, universos, céus estrelados etc... Consigo sentir o
corpo deslizando em ondas macias nauseantes com imagens extraordinárias.
Procurei se existe um antídoto, algo que me deixe com os olhos
normais novamente para liberar a mente e decidir se posso ter o direito de
contar carneirinhos normais que não pisquem e me ofereçam seus cocôs em
saquinhos de bibis enquanto um papagaio se transforma no Nei Matogrosso e
conversa comigo com a voz da Alcione.
Droga é uma droga mesmo! Meu cérebro esta a milhão dançando “caracarambacaracaraô”
pra mim. Xiiii... Aquela tartaruga com a cara da Henriqueta Brieba que
faz cocô de notas musicais coloridas está tentando se comunicar comigo e eu não
sei falar tartaruguês. Tô tentado me esforçar e não consigo entender o que ela
fala. Ela encolhe o pescoço que mais parece (desculpem o palavrear) um “pinto”
de um senhor de 98 anos de dentro daquela imagem saem vários outros “pintos” de neon com um saco
escrotal com olhos que piscam sem parar. Ficam pulando dentro de um buraco negro lindo
de morrer rosa chock que vomita um degradê todo trabalhado na linha do rosa e
azul piscina que faria Clóvis Bornai morrer de
inveja.
Só sei que cada vez que a dor recomeçava, enfermeiras bacanas
adentravam o quarto do hospital e depois lembro de fazer o símbolo da paz e
amor para os meus pais, dar um tchauzinho e ficar rindo sozinha.
Me peguei por um momento, que demorou muito, “me achando” “A
INTELIGENTE” quando enxergava painéis eletrônicos com vários números que
piscavam em alto brilho todo trabalhado na purpurina dourada. Me senti num
filme policial interessantíssimo, e se alguém ousasse falar comigo e me fazer
abrir os olhos eu juro que matava naquela hora se tivesse algo pontiagudo nas
mãos... Estava achando uma delícia poder voar em ondas magnéticas que me faziam
sentir poderosa e me via fazendo altos cálculos de matemática e o resultado
aparecia em vermelho todo trabalhado na purpurina vermelha “a la bola de natal”
com o que eu estava pensando e mostrava que estava certo. Incrível! Havia todo
um serviço de inteligência da policia todo trabalhado no degradê do preto e
cinza que pareciam um sorvete derretendo com diversas cabeças em 3D que saltavam
subindo e descendo perguntando qual o resultado do próximo enigma. Foi um dos
que eu mais gostei. Me enxergava anotando num bloco, que se não me engano pedi
para a Alice que gentilmente me emprestou enquanto o coelho passava por nós com
um relógio que derretia e dizia: o tempo está acabando, o tempo esta acabando...
Me senti tão poderosa, mas tão poderosa que falei até um “CASTABOCA”
dos meus para a neurótica da rainha que ficava repetindo cortem a cabeça dela!
Cortem a cabeça dela! E PASMEM! Ela ficou bem quietinha e dos seus olhos saiam
lágrimas psicodélicas lindas de morrer todo trabalhado no rímel “GIVENCHY”.
(Abrindo um parêntese, sabecumé, drogado quando tá doidão não
para de falar e imenda um assunto no outro sem parar para respirar, mas quase
doei um rim uma vez num ato de loucura e acabei comprando esse rímel porque me
disseram “QUE RIMEL MELHOR NÃO HÁ” Putz! Aquilo era verdade e toda vez que pego
o meu rimelzinho todo trabalhado na Loreal amaldiçoo quem me deu essa
informação, preferia ter morrido na ignorância de não ter conhecido um rímel
que realmente faz você mexer o cabelo e fazer “ZOINHO” quando caminha pela rua).
Mas enfim, deixa isso pra lá, eu tava falando da Rainha... O
que eram as cores das lágrimas que saiam dela? Acabavam virando uma onda toda
trabalhada do dregradê que saía do cinza e explodia fogos de artifício prata...
Uma cosa “lindia” que eu nunca mais vou esquecer.
O quê? Já são cinco da manhã?
Querem saber? Vou encarar o
presépio todo trabalhado na luz neon branca com purpurina prata que está
fazendo um social no corredor na frente da porta do meu quarto enquanto o Roberto Carlos canta: Essa luuuuuuuuuuuuuuz é claro que é Jesus... Tá lindo de
ver... Pode ser que apareça meu São Miguel Arcanjo lindo de morrer todo trabalhado no dourado com aquela espada saindo fogo
azul todo trabalhado no degradê no mesmo tom que de vez em quando explode um
raio “a la fogos de artifício estilo CASA DO TIO CHOCO NO ANO NOVO”.
Enfim... Como eu ia
dizendo: desculpem a prolixidade. Ficar falando sem parar como a
Narcisa, mas gente drogada é um porre mesmo!