quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Falta do que fazer

Dona Calastaboca, mais conhecida como Cacá, é típica moradora de uma cidadezinha de interior onde pessoas frustradas e infelizes que só fazem cocô e aniversário durante o ano se ocupam de falar da vida alheia e o auge de uma conversa que julga ser inteligente e animada é se fulana engordou uns quilinhos a mais ou se está namorando esse ou aquele lá. Sempre é claro sob um ângulo negativo e maldoso onde seu ponto de vista se detém a observar a vida dos outros enquanto esquece de olhar a sua que é um verdadeiro desastre num gráfico descendente.


 Senhora de meia idade, mãe de dois filhos problemáticos que ela julga ser motivo de orgulho, sobrevive à custa de um marido tosco da qual não pode se separar senão morre de fome. Ocupa seus dias falando dos outros e comendo sem parar. Como consequência está engordando e por isso a preocupação com a aparência alheia. Para aliviar de alguma forma sua rejeição com o próprio corpo e sua infelicidade que transborda pelos poros ela fala. Mas fala. Fala sem parar e por mais que o tempo passe e mil coisas aconteçam, Cacá está lá naquela vidinha medíocre sempre fazendo fofoquinhas, intriguinhas, comentários maldosos tão vazios quanto sua vida.  


Cacá é daquelas que, com o tempo poderá comprar um aparelho de surdez, dos melhores e mais avançados, mesmo tendo sua audição em perfeita e saudável condição, só para ouvir as conversas das comadres que passam pelas calçadas de sua rua. Não duvido disso.  


Nos dias de festa, que ocorrem algumas vezes na “alta sociedade” da cidade de Sucupira City, antes mesmo dos primeiros cidadãos chegarem em suas mesas, Cacá e sua língua afiada avaliam se os vestidos estão repetidos ou de acordo com as últimas tendências da revista Moda Moldes que sua mãe assina. Mesmo devendo para a farmácia ela investe em vestido e sapato novo para não fazer feio para os "outros" que nem lembram que ela existe. Coitada! É uma das poucas diversões na vida agitadíssima de Cacá trancada em casa.


Pra completar, nunca falta uma amiga carente de um par de ouvidos, independente se haverá um repasse deturpado ou exagerado de informações para alimentar uma pessoa dessas e torná-la uma máquina de fazer fofoca “ad eternum”.


 Vida vazia. Falta do que fazer. Infelicidade saindo pelos poros. Ocupar-se da vida alheia já que a sua é uma grande “bosta”, com o perdão da palavra. São pessoas maldosas. Elas criam em suas mentes versões negativas de tudo de bom que acontece na vida dos outros. A lipoaspiração da fulana foi em troca de alguma coisa. A beltrana se separou e agora tá namorando um velho fazendeiro e vai tirar todo o dinheiro dele. Detalhe, nem de longe a criatura é velha e não tem nada de jogos de interesses no meio de uma relação que é muito bacana. Mas a maldade que sai de sua boca é forte, como um veneno escorrendo enquanto fala.


Mas "sabecumé", gente falsa e fofoqueira é como sapo, tem língua comprida, olho grande e vive na lama. Melhor até é deixar pra lá. Uma hora vem uma cobra, come essa sapa e resolve o problema. Se é que vocês me entendem.