Dona Calastaboca, mais conhecida como Cacá,
é típica moradora de uma cidadezinha de interior onde pessoas frustradas e
infelizes que só fazem cocô e aniversário durante o ano se ocupam de falar da
vida alheia e o auge de uma conversa que julga ser inteligente e animada é se
fulana engordou uns quilinhos a mais ou se está namorando esse ou aquele lá. Sempre
é claro sob um ângulo negativo e maldoso onde seu ponto de vista se detém a
observar a vida dos outros enquanto esquece de olhar a sua que é um verdadeiro
desastre num gráfico descendente.
Senhora de meia idade, mãe de dois
filhos problemáticos que ela julga ser motivo de orgulho, sobrevive à custa de um marido tosco da qual não pode se
separar senão morre de fome. Ocupa seus dias falando dos outros e comendo sem
parar. Como consequência está engordando e por isso a preocupação com a aparência
alheia. Para aliviar de alguma forma sua rejeição com o próprio corpo e sua
infelicidade que transborda pelos poros ela fala. Mas fala. Fala sem parar e
por mais que o tempo passe e mil coisas aconteçam, Cacá está lá naquela vidinha
medíocre sempre fazendo fofoquinhas, intriguinhas, comentários maldosos tão vazios
quanto sua vida.
Cacá é daquelas que, com o tempo poderá
comprar um aparelho de surdez, dos melhores e mais avançados, mesmo tendo sua
audição em perfeita e saudável condição, só para ouvir as conversas das
comadres que passam pelas calçadas de sua rua. Não duvido disso.
Nos dias de festa, que ocorrem algumas
vezes na “alta sociedade” da cidade de Sucupira City, antes mesmo dos primeiros
cidadãos chegarem em suas mesas, Cacá e sua língua afiada avaliam se os
vestidos estão repetidos ou de acordo com as últimas tendências da revista Moda
Moldes que sua mãe assina. Mesmo devendo para a farmácia ela investe em vestido
e sapato novo para não fazer feio para os "outros" que nem lembram que ela
existe. Coitada! É uma das poucas diversões na vida agitadíssima de Cacá
trancada em casa.
Pra completar, nunca falta uma amiga carente
de um par de ouvidos, independente se haverá um repasse deturpado ou exagerado
de informações para alimentar uma pessoa dessas e torná-la uma máquina de fazer
fofoca “ad eternum”.
Vida vazia. Falta do que fazer.
Infelicidade saindo pelos poros. Ocupar-se da vida alheia já que a sua é uma
grande “bosta”, com o perdão da palavra. São pessoas maldosas. Elas criam em
suas mentes versões negativas de tudo de bom que acontece na vida dos outros. A
lipoaspiração da fulana foi em troca de alguma coisa. A beltrana se separou e
agora tá namorando um velho fazendeiro e vai tirar todo o dinheiro dele.
Detalhe, nem de longe a criatura é velha e não tem nada de jogos de interesses
no meio de uma relação que é muito bacana. Mas a maldade que sai de sua
boca é forte, como um veneno escorrendo enquanto fala.
Mas "sabecumé", gente falsa e
fofoqueira é como sapo, tem língua comprida, olho grande e vive
na lama. Melhor até é deixar pra lá. Uma hora vem uma cobra, come essa sapa e
resolve o problema. Se é que vocês me entendem.