quarta-feira, 28 de abril de 2010

Traumas de Infância


Adoro monologar. Falo sozinha até hoje. Tudo por causa dos meus amigos imaginários que brincavam comigo na infância. Eu sabia que o roupeiro era o roupeiro, mas fazia de conta que tinha alguém ali batendo papo comigo. Para quem olhava de longe ficava esquisito. Praticamente um caso de psiquiatria. Entrava no Box do banheiro e fechava a porta. O mais legal era encolher um pouco as pernas porque o elevador havia chegado ao seu destino. Lá estava eu com uma boneca embaixo do braço falando sem parar.

A diferença de idade de minha irmã mais velha é de 5 anos. Isso é tempo pra burro quando a irmã menor decide que quer participar do mundo da maior. Então lá estava eu com minhas bonecas, falando sozinha sem parar e chega minha irmã estranhamente simpática querendo que eu fosse a filha dela numa brincadeira com as amigas. Eu tinha que obedecer à risca tudo que ela mandava, fazendo coisas que nem minha mãe seria capaz de fazer. Buscar coisas no mercadinho da esquina, lavar coisas para ela, arrumar toda a bagunça do quarto.

Um belo dia estávamos tomando banho juntas na banheira. Engraçado, parecia tão grande! Era o nosso navio, o que é mais estranho ainda, pois se tiver água dentro do navio afunda, não? Mas enfim... lá estávamos nós, era divertido. Minha irmã enfim minha amiga brincando de aventuras marítimas sem brigar comigo. Foi então que ela me fez a proposta de ver quanto tempo eu aguentava embaixo d´água. Nem tive tempo de recusar, pois imediatamente ela executou o que havia proposto, e eu juro que pensei que naquele dia iria ver Jesus. Ju-ro! Ela segurava a minha cabeça com força e eu tentava me livrar daquela pressão me debatendo com as mãos e os pés... E ela lá, achando o máximo eu conseguir sobreviver todo aquele tempo.

Sobrevivi. Não sei como, mas estou aqui hoje para contar essa história. E como se não bastasse a tentativa de homicídio dentro da minha própria casa, a minha irmã assassina, graças à Deus incompetente, resolveu, também num banho desses, me ajudar na tarefa de tirar a mancha de um remédio que eu estava tomando e que deixava minha língua rosa. Mandou que eu esfregasse bem o sabonete na língua com bastante força, e eu, boca aberta, literalmente, fiz o que ela mandou. Lembro bem da minha expressão naquele dia, com a língua toda pra fora paralisada dizendo com dificuldade: Tá ardendo, Beta!

Uma irmã mais velha pode ser muito mais perigoso do que se imagina, então chega um momento que “pamonhisse” tem limite e a gente acaba aprendendo a se defender. Como eu tinha um pequeno probleminha nos vasos nasais, qualquer coisinha ocasionava uma hemorragia nasal. Foi então que tive a brilhante idéia de vingança quando Roberta me deu um tapão no nariz e a bendita hemorragia começou, bem na hora que minha mãe estava chegando do trabalho. Fui para o banheiro, tranquei a porta e estimulava o sangramento. Quanto mais sangue saía, mais eu esfregava pelo rosto todo enquanto Roberta desesperada batia na porta e gritava:
- Abre maninha! A mãe já tá chegando!
E eu? Não abri. Só para a minha mamãezinha depois. Uórrarrarrarrarrarra.

É... meu anjo da guarda é o cara!


P.S.: Observe a foto. O que é aquilo lá atrás? Bonecas ou brinquedo assassino?