sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ser mãe de menino

Venho de uma família de mulheres. O único homem da casa era meu pai. Consequentemente meu universo sempre foi de bonecas, calcinhas, um mundo cor-de-rosa. Na medida em que o tempo foi passando, o assunto foi mudando para cabeleireiro, cor das unhas, maquiagem. Uma veadice total. Aliás, minha mãe sempre diz que se eu fosse homem, seria um perfeito “veado”. Nossos assuntos giravam em torno de tons de cabelo, brincos e bolsas. No estojo, lápis e canetas tinham cores “femininas”.

Então um dia fiquei grávida. Imaginava as “quinquilharias” que iria colocar na minha “guriazinha” que estava do tamanho de um grão de arroz. Quando estava com 3 meses de gestação, meu grão de arroz já tinha jeito de gente e resolveu abrir as pernas e mostrar um “pintinho”.

Levei um choque. Um menino? Como a gente cria menino? Eu não sei fazer isso, e agora? Meu menininho nasceu com o nome de Guilherme, que significa protetor. Indica um homem que se orgulha da sua força (física, mental ou moral) e se vale dela para auxiliar a pessoas de quem gosta. Queria que meu filho tivesse um nome forte, que quando pronunciado significasse algo de bom.

Ele cresceu mais um pouquinho e hoje meu mundo transformou-se em Ben 10, Power Rangers, Bob Esponja, Super Homem, Batman, Homem Aranha e muitos carrinhos espalhados pela casa, que aliás, tem que ser da "Hotwheels", senão “queba” ou “estaga”. Era o que ele dizia quando tinha três anos de idade e já me dava altas dicas de controle de qualidade.

De vez em quando passa aquela miniatura de ser humano pela sala, de macacão e com um boné virado para trás, segurando o cachorro pela traseira e o coitado de cabeça para baixo tentando espernear.

Chuta tudo que é redondo. Inclusive bolas da árvore de natal e as bolinhas de vime que eu “tinha” em cima da mesa da sala. Lembro quando ele me disse:
- Mamãe, já sou um homem “gande", quero fazer xixi de pé, “igal” meu pai.

Hoje tenho aulas sobre pterodáctilos e tiranossauros como nenhum professor jamais me ensinou. Percebi que tudo passa muito rápido. Meu gurizinho vai estar me pedindo a chave do carro daqui uns dias e eu ainda vou estar aprendendo a entender o universo masculino. O Guilherme é, na minha vida, aquele alerta para que eu olhe algumas coisas através dos olhinhos dele... E tudo muda realmente de valor. É incrível!



E eu lá... Do outro lado da gangorra agradecendo à Deus por me proporcionar um momento tão simples e tão mágico como esse. Meu filho. Um pedacinho meu me olhando lá do alto. Para onde eu olhava quando pedia um Guilherme para as estrelas...