quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Mamãe Monstro

Estava olhando os dvd´s do nascimento do meu filho e fiquei apavorada, horrorizada, escandalizada, chocada com a minha feiúra no nascimento do guri. É tudo muito lindo, muito maravilhoso. Para os outros que não estão na posição de mãe.

Eu lá, com a boca parecendo uma câmara de caminhão virada ao meio e o nariz do tamanho de uma jaca, tentando sorrir ao ir para o matadouro. Sim, porque essa é a sensação. Não sabemos o que nos espera na sala de parto e temos a nítida sensação de que estamos a caminho de um.
O medo que todas as grávidas têm da cesariana e tudo que a envolve, esse passa batido, porque na verdade não sentimos dor alguma ao “darmos a luz”. Lembro bem da cena. Pedi ao meu marido que conferisse com um beliscão se estava bem anestesiada antes de começarem a “me carnear” e quando ele foi dizer isso para o médico a barriga já estava na quinta camada de graxa a ser cortada. Percebi que ele ficou meio estranho, mas deu uma boa disfarçada.

Enfim, o nascer do filho acontece em meio a muita euforia e na maioria das vezes nos contam só a poesia. O novo papai, a nova mamãe e o filhinho. Mas a verdade nua e crua constatamos depois e isso ninguém nos conta antes.

Mudam a gente de posição como um saco de batatas pra tudo que é lado. Limpam a bunda da gente como se fosse um telefone. E tu lá. Inflada. Explodindo de gorda e de felicidade. A felicidade é tanta, que se esquece até da feiúra. Só se pensa no bebê.

Sabe aquelas fotos clássicas que todo mundo tem no hospital? O papai lindo, magrinho, com a aparência normal com seu filhinho no colo e a mamãe... Bem a mamãe fica virada num bofe, com a cara deformada, toda escabelada e por estar deitada a papada fica mais evidente ainda.

Como se não bastasse as enfermeiras enfiando as mãos em meus seios para fazer descer o leite, depois minha irmã tentava espremer mais um pouco. Não duvidaria de mais nada, nem se alguém começasse a chupar meu seio para ver se descia aquele leite teimoso. Eu já estava apavorada. Senti-me uma vaca leiteira deficiente ainda por cima, pois todo mundo tentava tirar leite e não conseguia. Ter filho é assim? Eu pensava que era como nas poesias.

Não importa. Divirto-me com a mamãe monstro que fui durante alguns meses, mas afirmo que valeu muito à pena e não me importaria de passar de novo por tudo isso e ficar horrorosa mais uma vez no pós-parto. Porque não existe nada nesse mundo que substitua a alegria e a explosão de amor que é gerar e parir um filho.

Mesmo que pra isso a gente tenha que assumir o papel de “um monstro que foi picado por diversas abelhas” para poder dar a chance de o filho atuar no palco da vida e enfim ter a chance de se sentir eterno através das diversas gerações que partirão dele.