quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Carnaval


Para mim carnaval é um delicioso feriadão prolongado feito para descansar a cabeça e desligar-se dos problemas bem longe de casa e do trabalho e naturalmente ao som de um sambinha por perto.

Na ala "Libera Geral" temos vagabundas que ficam completamente ouriçadas. Os caras “sem-vergonha” terminam o namoro de quatro anos para galinhar nas quatro noites. O diabo fica solto. A galera esquece da AIDS, da sífilis, da gonorréia, da herpes genital, da candidíase, do condiloma, do granuloma, do trichomonas, do HPV e principalmente da camisinha. Aliás, muitos filhos por aí foram feitos num carnaval. A galera “dá” adoidado, ô beleza! Atrás da cortina do clube, embaixo da escada, no banheiro, atrás da árvore, dentro do mar, no meio da multidão. Tem gente que enlouquece. Nunca entendi porque no carnaval pode e no resto do ano nada disso acontece. A sensação que dá é que no período carnavalesco as pessoas não raciocinam e permitem-se fazer e acontecer sem limites como se na quarta-feira de cinzas a vida não fosse continuar seu curso normalmente. Isso me assusta!

É vagaba dando em cima do marido da gente. É "fiadaputa" arrumando briga porque passou a mão na bunda da mulher do outro. É gente se agarrando e enfiando a mão em tudo que é buraco do corpo humano e no outro dia nem se cumprimentam. Uma chupa a língua do vivente que nunca viu na frente e dali cinco minutos ta chupando a língua de outro, ou dependendo da doideira de outra. Um festival de putaria.

Na ala dos doidão temos a galera que faz “diumtudo” porque é carnaval. Tem gente que emenda as quatro noites sem dormir cheirando pó e pirando o cabeção. Depois alguns se matam com uma depressãozinha básica, mas isso é um mero detalhe. Outros estragam a festa com uma overdose. Outros deixam escapar uma diarréia nas calças. Outros acabam dando alguns tiros e matam algumas pessoas na rua. Tudo muito simples assim, como se a vida não valesse nada.

O máximo de droga que fiz num carnaval foi cheirar lança-perfume quando tinha quatorze anos. Lembro bem da cena. Cheirei aquele lenço e um vídeo-game começou a zunir dentro da minha cabeça. Estava escutando Bob Marley e a música foi ficando longe, longe, muuuuuito longe e eu lembro que me babei toda. A baba caiu lá no pé. Que cena linda! Admirável vocês não acham? Tão admirável que nunca mais fiz. Paguei todo o dinheiro da minha mesada para escutar um barulinho diferente durante menos de 3 minutos e ficar com cara de abobada babando na frente dos meus amigos. Totalmente panaca! Além disso, o cheiro é enjoativo.

Pior que isso, eu havia comprado alguns tubos com as amigas do bloco que eu tinha e fiz de tudo para esconder dos meus pais. Então meu avô que é super sério e conservador chegou e perguntou na nossa concentração se alguém tinha lança. Todo mundo se olhou e obviamente disse que não. E ele disse:
- Que pena! Poderíamos colocar no congelador. Fica muito melhor! E assim eu experimentaria de novo!
Ficamos de queixo caído. Mas o que meu avô não sabe é que isso é proibido nos dias de hoje. No tempo dele era liberado e as pessoas tomavam com uísque. Dá para acreditar? (Minha mãe vai me matar porque eu contei isso).

Na ala da diversão, onde tudo é festa e bebedeira, se for embora de táxi tá tudo certo. No máximo uma vomitadinha num canto em meio a muitas gargalhadas. Mas sempre tem aquela criatura que não bebe nada e que fica com cara de bunda num canto achando tudo bobo. Fica com aquela cara séria enquanto todo mundo ri, criticando tudo que vê na frente e ao invés de ir para casa dormir fica ali, olhando com ar de superioridade como se estivesse fazendo uma análise de como as pessoas são idiotas e ridículas por estarem simplesmente sendo felizes. Dá vontade de mandar pra casa chupar um carpim. (Eu normalmente falo meia, mas meu avô falava muito essa frase: Vá chupar um carpim! Então eu acho mais legal carpim nesse momento. Melhor que falar o palavrão que havia pensado antes).

Na ala das crianças temos miniaturas de seres humanos que nos primeiros cinco minutos chegam fantasiados nos mínimos detalhes e então na medida em que o tempo passa a fantasia vai sendo desmanchada. A máscara do Batman é perdida, a capa acaba virando pano de chão para limpar o refrigerante que foi derrubado. Aquelas espumas em spray... Ah! Aquelas espuminhas “amigas”... Eu queria enfiar no você sabe onde de quem inventou aquilo. Espuma mais desnecessária! Só serve para melecar tudo e deixar o chão grudento. Você está lá dançando e um “diabinho” de 1 metro e 10 aperta aquilo na tua cara e sai correndo. Lá pelas tantas alguma criança simplesmente desaparece, a mãe se desespera. Então encontra o vivente embaixo da mesa bem tranqüilo tirando tatu (pólipos nasais). As menininhas com carinhas de cansadas, aliás, exaustas com os cabelos suados e a maquiagem toda borrada. Os menininhos correndo por todos os lados e com confete até dentro do ouvido. Certa hora começam a querer recolher todos os confetes que estão no chão e não deixam espaço para ninguém dançar porque eles estão na sua importante missão de “quem consegue juntar mais confetes do chão”.

E quando é em clube com conjunto musical? Vocês já repararam no figurino dos artistas no palco? Certa vez tinha uma mulher vestida de Xuxa com uma mini blusa e uma bolsa de banha caindo por cima de um micro short, usando uma meia calça bege para disfarçar a celulite, só que ficou muito pior porque ficou parecendo uma personagem maluca que saiu de dentro de um roupeiro cheio de coisas toscas. Usava uma botina zebu que não correspondia em nada com a Xuxa de verdade. E ela gesticulava como se os braços fosse de uma boneca de pano. Muito engraçado. Só de lembrar eu dou risada. Mas o que importa é que ela tinha uma voz melhor do que a Xuxa para cantar. O que não é difícil.

Na ala dos mal-humorados assumidos, temos aquelas pessoas que simplesmente odeiam qualquer barulho de tamborim. Vão dormir às oito da noite de cara fechada porque a vizinhança está fazendo barulho. Como não conseguem dormir ligam a TV e se indignam com o complô contra eles porque em todos os canais só o que dá é cobertura dos carnavais do Brasil. Então o vivente senta quieto na frente da TV e encara de braços cruzados o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro sem nem sequer bater o pezinho no chão.

Na ala dos "tô nem aí", temos gente como eu, que prefere sair para algum lugar legal se tiver afim, sair para um boteco para dar umas risadas com os amigos sem hora para voltar, passar o dia inteiro na praia totalmente zen... “Zen nada para fazer”... Só deixando o sol penetrar nos poros e na alma.

Na ala dos drags, homossexuais assumidos e transformistas, bem, esse não tem graça escrever. É o mais legal de todos. Todo mundo sabe. Impossível não se divertir.

Adoraria passar um carnaval na Bahia. Mas só de pensar eu canso. Fico me imaginando apertada no meio de uma galera suada e bêbada. Não que eu também não estivesse suada e bêbada, mas só de pensar eu desisto. Acho que sou muito acomodada. Prefiro ficar na beira da praia relaxando ao invés de ficar pulando como pipoca. Mas isso também depende do porre. Acho que preciso beber mais vocês não acham?

Bom Carnaval pra vocês! E se você for da ala Libera Geral encape o pinto e seja feliz!