sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Freud explica

Estou saindo com ele novamente, mesmo depois de tudo que ele me fez...
- Hummm...
- Eu não sei o que me dá. Eu olho para aqueles lindos olhos cor de abacate que amadureceu demais e aquela pele cor de cuia com aqueles cabelos encaracolados e me desmancho toda. É como se pensasse: Ah! Só mais uma vezinha para me sentir feliz de novo sabe?
- Não, não sei.
- Eu sei que deveria ter mais amor próprio e seguir a minha vida, mas é que a minha vida pára se ele não está ao meu lado. É como se o mundo parasse e só existíssemos nós dois.
- Sei...
- Nesse tempo todo que ficamos separados, não transei com mais ninguém. Estou muito carente. Mas só consigo sentir falta dele. Só ele alivia minha tristeza.
- Entendo, mas não compreendo...
- Quando eu o vejo com a namorada sinto que vou morrer. Choro. Como uma caixa de chocolates assistindo filmes de amor não correspondido. Depois me entupo de comida, tomo um comprimidinho para dormir e apago para não pensar em mais nada.
- Pensei que tivéssemos conversado sobre não tomar mais remédios.
- Eu sei, mas é que assim eu durmo e não penso. E depois foi só mais dessa vez, prometo. Eu estou meio trêmula e não ando me lembrando das coisas direito, sei que devo parar com isso. Quem sabe se eu conversasse com ele e dissesse o quanto eu o amo. Assim tudo estaria resolvido não?
- Não, não estaria.
- Eu não sei mais o que fazer! Minha vida não tem sentindo sem o Rosicleison... Já pensei até em me matar, mas não tive coragem.
- Ele não sentiria a menor falta, acredite! Pelo contrário, sentiria até um alívio!
- Ai credo! Não fale assim, estou pagando para que você me dê uma solução e não fique aí me xingando.
- Não estou xingando. Estou dizendo verdades. É diferente.
- Você acha que estou com monogamia compulsiva?
- Conte-me mais sobre sua relação com seus pais...


Após 6 meses de tratamento...

- E então é isso doutora. Você acha que tem solução?
- Conte-me mais sobre sua relação com seus pais...

Um ano de tratamento:

- Doutora, sinto que estou mais leve. Já consigo controlar minhas emoções. Eu quase morro quando chego em casa, mas não demonstro isso na frente de ninguém. As pessoas acham que sou uma rocha. Dona de mim, independente, livre. Inclusive ele que nunca mais me ligou e eu já estou pensando até em procurar outro namorado.
- Sim... Conte-me mais sobre sua relação com seus pais...

Mais alguns meses...

- Hoje acordei feliz! Acho que o carinha da venda da esquina está me dando a maior bola. Agora toda vez que vou sair me arrumo toda como se fosse para uma festa só para comprar alguma coisa na venda dele.
- Que ótimo! Fico feliz que esteja se libertando das correntes invisíveis do psiquê humano.
- Sim. Acho que não precisarei mais de análise. Sinto-me bem. Sinto-me feliz agora.
- Veja bem querida, largar a análise não seria interessante agora que está se recuperando de uma dor que lhe foi muito profunda. Eu não aconselharia cometer esse desatino. Você poderá ter uma recaída e isso poderia ser desastroso depois de tanto tempo de tratamento. Isso lhe fez tanto bem, não é mesmo?
- Sim. Mas sinto-me fortalecida com tudo que sofri. Acho que agora posso andar com minhas próprias pernas.
- Sim, queridinha. Você está sentindo-se assim por causa da análise meu anjo. Isso é muito natural. Acredito que mais alguns anos e você estará pronta para encerrar nossos encontros.
- De qualquer forma, poderíamos parar um tempo para testar minhas atitudes sem a sua ajuda.
- Seu tempo acabou. Sinto muito. Justo agora que ia te receitar remedinhos fantásticos para emagrecer. Que judiaria!