sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Vinhos

Prezada Blogueira Renata,
Estou em greve, decidi não beber mais água, somente bebo vinhos chilenos, argentinos, uruguaios e brasileiros, uns sulafricanos às vezes, um francês lá de vez em quando. Dica para a Srª escrever. Fale de vinhos, por favor.
Att. Tito Schipa


Bueno, vamos falar de vinhos. O problema é que você pediu isso para a pessoa errada. Não entendo nada sobre o tipo de uva que por sua potência e concentração vai determinar se combina mais com carnes grelhadas ou com peixes. Se me perguntar a diferença entre Chardonnay, Riesling e Gewürztraminer eu não vou saber te responder. Posso não saber o que quero da minha vida, mas sei que enóloga ou simplesmente uma sommelier eu jamais serei.

Estou reaprendendo a gostar de vinhos, meus prediletos são Concha Y Toro, Carta Vieja, Gato Negro e Santa Alvara. São encorpados, com um delicioso aroma. Esses vinhos são os que gosto de tomar atualmente, mas bem devagar, porque senão me vem a mente certas lembranças desagradáveis.

Quando tinha quatorze anos e era completamente fora da casinha (mais ainda) reunimos umas dez amigas na casa de uma delas. Estávamos prontas para ir num baile do dia dos namorados. Estava me achando linda maquiada, mesmo com aquele nariz que resolveu crescer primeiro que o resto do corpo. Era meu primeiro baile e estava pronta para entrar nele ao lado do meu namoradinho da época. Achava aquilo o máximo. Quando a bebida “de fundamento” terminou, fomos num boteco na esquina e compramos um vinho bagaceiro de garrafão de cinco litros.

Todas as meninas tomaram metade do garrafão e a outra metade eu tomei sozinha. Sério. Tomei metade sem nunca ter bebido vinho na vida. Conclusão: Vomitei a casa toda e depois desmaiei. Só lembro de acordar com a mãe e o pai da minha amiga colocando açúcar na minha boca e passando água no meu rosto enquanto meu namorado gritava que não acreditava que aquilo estava acontecendo. Eu abria os olhos e tudo que via eram várias colherinhas de açúcar e um vulto tentando enfiar glicose na minha boca. Ainda bem que eram colheirinhas... Mas que bah!

Então me levaram para casa e eu fui direto para o banheiro escovar os dentes e me limpar. Não acertava a pasta na escova e coloquei o pijama virado. Meus pais não me viram chegar, pois fiz um esforço enorme para que eles não vissem. Ao chegar no quarto lembro de ter um porta retrato que era um coração com braços e pernas e ele acenava sem parar para mim. Eu ria dele e fazia sinal de silêncio para não acordar meus pais. Quando deitei na cama o teto do quarto girava e aquilo me dava náuseas. Sentia minhas coxas tremerem. Foi horrível. Queria voltar ao normal e não conseguia. Acabei dormindo e acordei num estado deplorável no outro dia morrendo de vergonha e com uma dor de cabeça terrível. Perdi o namorado e a vontade de tomar vinho. Não podia com o cheiro nem de um simples sagu e isso se estendeu por vários anos da minha vida.

Por isso Tito, não me sinto com propriedade para falar do assunto, por que há poucos anos que aprendi a gostar de bons vinhos devido ao trauma do vinho bagaceiro que tomei na adolescência. Mas quem sabe falamos em whisky? Daí sim, o assunto pode se ampliar... Coff!!! Coff!!! Coff!!

Um brinde! Com vinho do Porto, doce e forte, como o abraço que te dou agradecendo a tua participação aqui no blog.