terça-feira, 17 de agosto de 2010

A nossa velha infância

Amigos de infância. É estranho. É como se eles ainda existissem lá, no nosso passado, do mesmo tamanho, com as mesmas roupas, com os mesmos brinquedos e só nós que acabamos crescendo. Parece que ao lembrá-los me transporto para um lugar gostoso onde adorava ficar. Era tão bom. Tinha tantas coisas agradáveis para fazer.

Nossos amigos crescem, seguem caminhos diferentes e muitas vezes nunca mais avistamos até mesmo aqueles mais queridos que sentimos um carinho profundo. Pode ser que estejam casados, com filhos. Ah! Não, não consigo imaginar a Deysi Cioccary mãe. Ela é muito maluca. Uma maluca adorável, mas totalmente maluca. É capaz de colocar o filho no microondas e nanar a mamadeira. Pelo menos era há dezesseis anos atrás. Se bem que ela deve pensar a mesma coisa a meu respeito. Aliás, as minhas melhores gargalhadas dei com ela em nossos quartos.

A Mel nem sei por onde anda. Sinto uma saudade muito apertada do tempo que saíamos juntas. A Carine que era a rainha do miojo com maionese às três horas da tarde, hoje mora na Europa bem feliz com seu Matheus e o filhote Luca que é uma coisa de lindo. Lembro que o Matheus era um gurizinho que só sabia jogar bola ao lado da casa dele e não cumprimentava a gente quando tinha uns sete anos. Bem, pelo menos hoje ele cumprimenta e é bem querido. Guardo o sorriso de aparelho da Carô na memória e lembro que ela "voava" de carro conosco quando tínhamos uns quatorze anos. O nosso anjo da guarda teve trabalho.

O Marcelo Barcellos tentou me beijar a força quando tínhamos uns cinco anos e hoje ele nem lembra disso.Pior é o Adriano Medeiros que era pai das minhas bonecas e nem sonha que isso um dia aconteceu.

Lembro do galho de mamona que eu e meus primos atiramos no carro do pai da Jô e no outro dia ela me massacrou no colégio. Ela era filha única cujo pai ensinou a dirigir com nove anos e a gente achava o máximo passear com ela. Não acreditei quando ela me levou em casa de carro na saída da escola. Ela mal alcançava os pedais. Cheguei em casa pedindo para o meu pai me ensinar a dirigir e ele achou que eu estava louca.

A Clarissa odiava o uniforme do colégio na terceira série. Era a única que não usava. E boa parte da galera resolveu colocar um botão colorido no uniforme para diferenciar a turma. Era botão rosa choque, outro verde-limão e assim estava formado a rebeldia contra o uniforme azul marinho horrível do Januária Leal.

A Fernanda Mayora tinha a “casa de vó” mais divertida, pois além daquele porão bem mais legal que o da minha vó, o tio dela tinha um supermercado ao lado que tornava tudo muito mais legal.

A Raquel Monks me apresentou pipoca com fondor e desde então nunca mais comi pipoca com sal. A Gabi, que morava ao lado da casa da minha mãe, era a guria mais linda que conheci. Lembro que queria ser a Gabi quando fosse maior. Reencontrei ela no Orkut e ela continua linda. E eu cresci e não consegui ser a Gabi. Droga! Ela tinha dois irmãos e eles tinham um autorama gigante na garagem que era o acontecimento da rua.

A Cláudia Torres jogava sapata comigo depois da escola. A mãe dela ia buscá-la na minha casa e a gente sempre negociava uma prorrogação. Sem-pre. A Dani Amado era minha companheira de Garelli, a gente passeava por toda cidade e nossos cabelos fediam a gasolina. Aliás, do meu tempo de Garelli, muitas histórias para contar, mas a melhor delas ainda foi com a Carol Abascal, a Vania Cavalheiro e a Roberta Casanova quando andamos no camburão da polícia de carona, já que eles pegaram nossas motos. Na hora de chamar nossos pais, mentimos que éramos órfãs. Não colou. As motos ficaram presas e nós com um problemão na mão. Naquele dia todos os pais estavam fora da cidade por coincidência do destino e foi brabo quando eles chegaram em casa.

O bolo de banana na casa da Renata Severo. Hummmmmmmm. Assistindo Super Xuxa contra o Baixo Astral. A primeira vez que vi um vídeo-cassete na minha frente. Sério! A festa-surpresa que fizemos para a Biscoito e usei toda a tinta da impressora da minha mãe com cartazes para a festa. Nos juntamos e torramos a mesada porque resolvemos dar um som pra ela de presente.

As festinhas à meia-luz e música lenta, aquele monte de adolescentes com um narigão horrível e um pé do tamanho de uma lancha. As “funções” da tarde quando tínhamos tempo livre, todo mundo se juntava numa casa para ver filme e comer sem parar o que tivesse na despensa. Tudo era um evento. Tardes na casa da Melissa, tardes na casa da Carine, tardes na casa do Max. Tudo tinha um motivo para virar acontecimento.

Quando começamos a sair à noite, éramos conhecidas nas boates, se é que hoje chamam de boates, ai... Tô ficando velha. Hoje é balada Renata! Saíamos quando o DJ anunciava a última música e bebíamos até cair. Um fiasco! Era fiasquento, mas era tão bom! Aliás, meu primeiro porre foi na casa da Mel e eu vomitei todo o carpete do corredor e do quarto do irmão dela. A irmã mais nova dela me olhava e vomitava também. A casa virou uma "coisa". Obviamente que os pais dela não estavam em casa. Tinha um porta-retrato com uma mãozinha pra cima que não parava de girar e me abanar. Porre de vinho tinto.

Depois, cada uma de nós começou a namorar e aí foi o ponto X da questão. Ou seria o ponto G da questão? Se é que vocês me entendem... Aliás, parecia um rodízio de irmãos de amigas, eu namorei o irmão da Mel e da Renata. Depois todas as minhas amigas namoraram o irmão da Mel enquanto eu namorava o irmão da Renata. Um horror! Até que um dia a gente foi morar em outra cidade e descobrimos que existia outros homens que não eram os irmãos de nossas amigas. Cada um foi para um lado diferente e depois do vestibular então, piorou. Separou pra sempre “até agora” entenderam? Nada que o Orkut não resolva.

Mas a saudade ficou. As lembranças ficaram e quando relembro, dou um sorriso de canto de boca e posso dizer para o meu filho que aproveite bem os amigos de infância dele, pois eles irão acompanhá-lo para onde quer que vá no futuro, dentro de sua memória e do seu coração.