sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Hoje acordei meio Nelson Rodrigues

Não sei você, mas eu tenho verdadeira adoração por Nelson Rodrigues. Aquele sarcasmo com humor inteligente. Aquela maneira de escrever a vida exatamente do jeito que ela é, recheada de verdades que chocam muitas vezes.

Sinto que tem um pouco dele dentro de mim. Sim, eu admito. Quando leio suas frases do tipo:
“Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém” ou então “Os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas”, fico pensando que existe uma genialidade nessa forma de escrita.

Escrever o que realmente é. A verdade jogada na cara das pessoas que mesmo não concordando com isso, acabam refletindo no silêncio do seu raciocínio que aquilo tem lógica. Como se dissesse o óbvio, mas que para muita gente não pode ser dito. As pessoas beijam, fazem amor, sentem tesão, masturbam-se e sentem milhares de coisas que todos nós sentimos. Mas ao falar de qualquer dessas questões o mundo acaba. As pessoas gelam, envergonham-se. Não, nada disso pode ser dito. Não podemos tocar em assuntos do gênero, pois isso não condiz com o que seria apropriado e correto dentro dos padrões da moral e dos bons costumes. Mas todo mundo faz.

Quando o autor faz referência a uma adúltera por exemplo, dizendo que ela é a mulher mais pura porque está livre do desejo que apodrecia nela, ele consegue não só causar indignação como uma reflexão por parte das mulheres que um dia sonham em buscar outras alternativas, não como adúlteras, mas como mulheres livres. Ele traz reflexão em meio ao que seria uma agressão para quem lê. Ele choca, gera polêmica. Mas ele diz verdades. E por serem verdades, podem irritar muita gente.

Hoje é meu lado Nelson Rodrigues que escreve. Vocês repararam como nosso foco muda completamente conforme nossa vida vai passando? Quando estamos fazendo vestibular, tudo que falar em resumo das matérias para as provas parece ter um neon vermelho nos chamando. Como se o mundo todo estivesse fazendo vestibular.

Depois dependendo do curso que escolhemos, achamos que todos deveriam fazer nosso curso, pois é incrível como ele se aplica em diversas situações e é de fundamental importância na vida das pessoas.

Então resolvemos casar. Perceberam que revistas de noivas parecem brotar nas bancas, na fila do supermercado, na internet? Uma simples passeada no shopping faz você enlouquecer quando percebe que o universo está conspirando a teu favor colocando aos teus pés uma feirinha de noivas.

O tempo passa mais um pouco e você engravida. Pronto! Mas como é que nunca reparamos antes que existiam bebês por todos os lados? Verdadeiros gremlins que se multiplicam sem controle algum e a sensação que se tem é que tudo que você enxerga são artigos de bebê.

Então por acaso do destino você se separa, e começa a perceber que metade da população também se separou e faz tempo. Começa a gostar de conversar com pessoas que tiveram a mesma experiência. Simpatiza mais com aquela pessoa que tem uma história parecida com a tua. Nota que até a propaganda da margarina mudou de família feliz com um casal de filhos para o menininho comendo pão com margarina e perguntando para o namorado da mãe quais as intenções dele.

Mas e o lado Nelson Rodrigues onde está? Está em dizer que quando não estamos passando por determinadas coisas que não coincidem com nosso momento de vida, não nos importamos com o que está fora do foco. Não percebo os bebês na rua quando estou focada no trabalho. Talvez uma bela pasta de couro me chame mais atenção do que um bebê lindo de olhos azuis passando do outro lado da rua. Sarcástico dizer isso? Não, verdadeiro.

Na real cada um se preocupa com o próprio umbigo e quando algo não está dentro do seu foco e da sua forma de ver a vida, então é imediatamente ignorado e muitas vezes criticado. Viramos seres compreensivos quando vivemos na pele determinadas situações em comum com a situação compreendida.

O que é correto para você? Qual seu ideal de vida? O que realmente vale a pena para chegar na morte com a sensação de dever cumprido? Não sei, mas o que você pensa pode ser totalmente errado e sem graça para mim e vice-versa. E daí? Que se dane! Quer saber, a verdade nua e crua é que todo mundo faz cocô e aniversário igual a todo mundo e ninguém é mais ou menos que ninguém porque teve determinados focos diferentes durante a vida.

Viva, simplesmente viva da maneira que lhe convém, com os teus conceitos de felicidade e livre-se da camada asfixiante e podre da opinião alheia. Afinal, todos nós vamos morrer, isso é fato. Mas o que importa é se ao morrermos conseguimos ter a vida preenchida com nossos atos voltados para o nosso foco e não para o foco de outras pessoas que nos utilizaram como fantoches humanos para satisfazer seus ideais de vida.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

GAROTA TPM

Uma mulher-bomba. Pavio curto. Explosiva. Podendo causar explosões terríveis e devastadoras. Nitroglicerina pura. Detonando tudo que está em frente no mínimo há 2.000 metros por segundo. Uma reação química onde o amor é o elemento que impulsiona e a vontade de ser feliz é o combustível. Em outras horas o ódio é o elemento que substitui o amor e o combustível é formado pela intolerância.

Explosivos podem ser usados para desmontar, escavar e mover rochas na mineração. Mas uma mulher na TPM é capaz de muito mais do que isso. É capaz de bombardear com um simples olhar, destruir com um simples gesto hostil ou desmoronar um coração com um ato de sensibilidade extrema.

A mais primitiva técnica de desmonte de rocha consistia, além da quebra com instrumentos como martelos e marretas, no aquecimento por fogueira e resfriamento rápido da rocha com água fria, causando pequenas rachaduras. Mas uma mulher pode desmontar um homem com um simples “não”.

Nitroglicerina com diatomito = Dinamite = Mulher na TPM. Mulher espoleta, sempre deixando um rastro de pólvora por onde quer que passe.

Eu posso me considerar uma Garota TPM. Uma faísca altamente inflamável. Pelo menos não sou ANFO que não possui resistência ao ataque da água, de modo que quando em contato com esta, não detona. Eu detono aonde quer que esteja. Vamos combinar!

Nobel deve estar se revirando no túmulo quando em espírito estava ao meu lado lendo essa "coisa" que acabo de escrever.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A nossa velha infância

Amigos de infância. É estranho. É como se eles ainda existissem lá, no nosso passado, do mesmo tamanho, com as mesmas roupas, com os mesmos brinquedos e só nós que acabamos crescendo. Parece que ao lembrá-los me transporto para um lugar gostoso onde adorava ficar. Era tão bom. Tinha tantas coisas agradáveis para fazer.

Nossos amigos crescem, seguem caminhos diferentes e muitas vezes nunca mais avistamos até mesmo aqueles mais queridos que sentimos um carinho profundo. Pode ser que estejam casados, com filhos. Ah! Não, não consigo imaginar a Deysi Cioccary mãe. Ela é muito maluca. Uma maluca adorável, mas totalmente maluca. É capaz de colocar o filho no microondas e nanar a mamadeira. Pelo menos era há dezesseis anos atrás. Se bem que ela deve pensar a mesma coisa a meu respeito. Aliás, as minhas melhores gargalhadas dei com ela em nossos quartos.

A Mel nem sei por onde anda. Sinto uma saudade muito apertada do tempo que saíamos juntas. A Carine que era a rainha do miojo com maionese às três horas da tarde, hoje mora na Europa bem feliz com seu Matheus e o filhote Luca que é uma coisa de lindo. Lembro que o Matheus era um gurizinho que só sabia jogar bola ao lado da casa dele e não cumprimentava a gente quando tinha uns sete anos. Bem, pelo menos hoje ele cumprimenta e é bem querido. Guardo o sorriso de aparelho da Carô na memória e lembro que ela "voava" de carro conosco quando tínhamos uns quatorze anos. O nosso anjo da guarda teve trabalho.

O Marcelo Barcellos tentou me beijar a força quando tínhamos uns cinco anos e hoje ele nem lembra disso.Pior é o Adriano Medeiros que era pai das minhas bonecas e nem sonha que isso um dia aconteceu.

Lembro do galho de mamona que eu e meus primos atiramos no carro do pai da Jô e no outro dia ela me massacrou no colégio. Ela era filha única cujo pai ensinou a dirigir com nove anos e a gente achava o máximo passear com ela. Não acreditei quando ela me levou em casa de carro na saída da escola. Ela mal alcançava os pedais. Cheguei em casa pedindo para o meu pai me ensinar a dirigir e ele achou que eu estava louca.

A Clarissa odiava o uniforme do colégio na terceira série. Era a única que não usava. E boa parte da galera resolveu colocar um botão colorido no uniforme para diferenciar a turma. Era botão rosa choque, outro verde-limão e assim estava formado a rebeldia contra o uniforme azul marinho horrível do Januária Leal.

A Fernanda Mayora tinha a “casa de vó” mais divertida, pois além daquele porão bem mais legal que o da minha vó, o tio dela tinha um supermercado ao lado que tornava tudo muito mais legal.

A Raquel Monks me apresentou pipoca com fondor e desde então nunca mais comi pipoca com sal. A Gabi, que morava ao lado da casa da minha mãe, era a guria mais linda que conheci. Lembro que queria ser a Gabi quando fosse maior. Reencontrei ela no Orkut e ela continua linda. E eu cresci e não consegui ser a Gabi. Droga! Ela tinha dois irmãos e eles tinham um autorama gigante na garagem que era o acontecimento da rua.

A Cláudia Torres jogava sapata comigo depois da escola. A mãe dela ia buscá-la na minha casa e a gente sempre negociava uma prorrogação. Sem-pre. A Dani Amado era minha companheira de Garelli, a gente passeava por toda cidade e nossos cabelos fediam a gasolina. Aliás, do meu tempo de Garelli, muitas histórias para contar, mas a melhor delas ainda foi com a Carol Abascal, a Vania Cavalheiro e a Roberta Casanova quando andamos no camburão da polícia de carona, já que eles pegaram nossas motos. Na hora de chamar nossos pais, mentimos que éramos órfãs. Não colou. As motos ficaram presas e nós com um problemão na mão. Naquele dia todos os pais estavam fora da cidade por coincidência do destino e foi brabo quando eles chegaram em casa.

O bolo de banana na casa da Renata Severo. Hummmmmmmm. Assistindo Super Xuxa contra o Baixo Astral. A primeira vez que vi um vídeo-cassete na minha frente. Sério! A festa-surpresa que fizemos para a Biscoito e usei toda a tinta da impressora da minha mãe com cartazes para a festa. Nos juntamos e torramos a mesada porque resolvemos dar um som pra ela de presente.

As festinhas à meia-luz e música lenta, aquele monte de adolescentes com um narigão horrível e um pé do tamanho de uma lancha. As “funções” da tarde quando tínhamos tempo livre, todo mundo se juntava numa casa para ver filme e comer sem parar o que tivesse na despensa. Tudo era um evento. Tardes na casa da Melissa, tardes na casa da Carine, tardes na casa do Max. Tudo tinha um motivo para virar acontecimento.

Quando começamos a sair à noite, éramos conhecidas nas boates, se é que hoje chamam de boates, ai... Tô ficando velha. Hoje é balada Renata! Saíamos quando o DJ anunciava a última música e bebíamos até cair. Um fiasco! Era fiasquento, mas era tão bom! Aliás, meu primeiro porre foi na casa da Mel e eu vomitei todo o carpete do corredor e do quarto do irmão dela. A irmã mais nova dela me olhava e vomitava também. A casa virou uma "coisa". Obviamente que os pais dela não estavam em casa. Tinha um porta-retrato com uma mãozinha pra cima que não parava de girar e me abanar. Porre de vinho tinto.

Depois, cada uma de nós começou a namorar e aí foi o ponto X da questão. Ou seria o ponto G da questão? Se é que vocês me entendem... Aliás, parecia um rodízio de irmãos de amigas, eu namorei o irmão da Mel e da Renata. Depois todas as minhas amigas namoraram o irmão da Mel enquanto eu namorava o irmão da Renata. Um horror! Até que um dia a gente foi morar em outra cidade e descobrimos que existia outros homens que não eram os irmãos de nossas amigas. Cada um foi para um lado diferente e depois do vestibular então, piorou. Separou pra sempre “até agora” entenderam? Nada que o Orkut não resolva.

Mas a saudade ficou. As lembranças ficaram e quando relembro, dou um sorriso de canto de boca e posso dizer para o meu filho que aproveite bem os amigos de infância dele, pois eles irão acompanhá-lo para onde quer que vá no futuro, dentro de sua memória e do seu coração.

domingo, 15 de agosto de 2010

Eu, o vinho e o limão




"Mi Buenos Aires querido, cuando yo te vuelva a ver, no habra más penas ni olvido"